“Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45).
As Sagradas Escrituras não deixam dúvida quanto às manifestações de um autêntico cristão. Jesus definiu o cristão com uma palavra: servo. Servir a Deus e ao próximo é a característica daquele que tem a Jesus como Senhor de sua vida, porque “o servo não é maior que seu senhor”; e Jesus veio para servir.
“Quando Jesus Se interessou em explicar a razão de Sua vinda para o nosso meio, fê-lo de forma simples e direta: servir e dar”. Não ser servido; não colocar-Se sob os holofotes, no picadeiro central. Não veio para ser famoso, nem conquistar a atenção do mundo, nem Se tornar conhecido, importante, popular, nem ser um ídolo. Não; e para falar a verdade, esse tipo de coisa O repugnava.
No primeiro século, foi enorme o número de gente assim, de dogmáticos de opinião forte. Indivíduos autoritários eram encontrados às dúzias (sempre o são, não é?). Havia os césares, os herodes, os governadores e outros figurões pomposos. Gente como os fariseus, saduceus e escribas – com os quais Jesus ‘cruzou lanças’ algumas vezes – chegavam ao ponto de se utilizarem da religião para controlar a vida dos outros. Mas servos? Quero dizer, um servo autêntico, que se dedicasse sinceramente ao serviço de outros, sem se preocupar com a questão de quem iria receber os louros? Não se encontrava um.”¹
“… E o que quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo” (Mt 20:27). Recomendação de Jesus que está em desuso, mesmo na grande maioria das comunidades cristãs, com líderes que detêm excelente educação e altas posições. A “mentalidade de servo” tornou-se um espécime raro em tais ambientes.
A “síndrome da celebridade” que povoa nossos ideais cristãos bem como nossas ações no cumprimento da missão, simplesmente não se ajusta com as atitudes e mensagens de Jesus. O padrão de comportamento adotado por tais celebridades tanto das igrejas como das instituições cristãs é o de dar ordens, não o de ser servo, pois se tornou uma prática dizer aos outros o que fazer. Todavia, não há nada na Palavra de Deus que justifique alguém deixar de servir às pessoas para servir-se delas.
Quem é o meu próximo?
“E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de por Jesus à prova e disse-Lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo?
Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo.
Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar. Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu-Lhe o intérprete da Lei: O que usou de misericórdia para com ele. “Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10:25-37).
“Na história do bom samaritano, ilustra Cristo a natureza da verdadeira religião. Mostra que consiste, não em sistemas, credos ou ritos, mas no cumprimento de atos de amor, no proporcionar aos outros o maior bem, na genuína bondade… Assim a pergunta: ‘Quem é o meu próximo? ’ ficou para sempre respondida. Cristo mostrou que nosso próximo não quer dizer simplesmente alguém de nossa igreja ou da mesma fé. Não tem que ver com distinção de raça, cor, ou classe. Nosso próximo é todo aquele que necessita de nosso auxílio. Nosso próximo é toda alma que se acha ferida e quebrantada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus.”
Oportunidades providenciadas
O Senhor, como Planejador Onisciente, sabe como fazer acontecer um encontro entre pessoas quando necessário. “Muitas boas oportunidades estão encobertas sob os acontecimentos que parecem acontecer por acaso.” (Herbert Lockyer).
Na providência de Deus ou nos registros dos evangelhos, não existe casualidade. No entanto, o sacerdote e o levita não viram aquela situação como algo planejado por Deus para que pudessem ajudar uma alma necessitada. O despreocupado sacerdote, um servo da lei, obrigado a agir com misericórdia até para com um animal (Ex 34:4, 5), que se passava abertamente como um homem consagrado a Deus, não tinha tempo nem compaixão pelo seu desafortunado companheiro judeu. Esse sacerdote conhecia a Lei com o seu mandamento sobre o amar a Deus e ao próximo, contudo, com dureza de coração, ele passa distante do ferido, pelo outro lado.
O levita era um servo do templo e, como ministro de adoração e intérprete da Lei, deveria ter sentido grande vontade de ajudar aquela alma assustada que viu, porém, deixou o homem sem assistência. Esses dois líderes espirituais deveriam ser os primeiros a traduzir sua fé em Deus, em preocupação e cuidado para com o corpo espancado do viajante. Ao introduzir o sacerdote e o levita na história, Jesus condena uma religião falsa, sem coração, destituída de compaixão, formal e organizada, e revela, no bom samaritano, o verdadeiro espírito da religião em sua essência.
O doutor da Lei deve ter ficado bastante surpreso quando Jesus apresentou o samaritano como a única pessoa que se dispôs a ajudar aquele judeu indefeso, na estrada solitária e perigosa. O homem que ajudou o pobre necessitado foi exatamente quem ele menos esperava que o fizesse. É lamentável observar quanto domina o egoísmo nestes níveis, quantas escusas dão os homens para poupar-se de problemas ou gastos em ajudar o próximo.
O cristão genuíno tem em seu coração a lei do amor. O Espírito de Cristo mora nele e a Sua imagem se renova, diariamente, em sua alma. O samaritano é um tipo de Jesus Cristo, que salva o homem, paga suas contas e promete voltar. A hospedaria é a Igreja, à qual Cristo pede que cuide daqueles que foram “comprados e salvos pelo Seu sangue.”
O servidor do Reino
Prescrever o serviço cristão para a sociedade dos dias atuais, na qual a individualidade é sustentada e propagada no cenário integralizado – empresas, escolas, universidades, instituições, etc. – é, para o mais otimista ou entusiasta, um desafio extremamente difícil. Sobretudo, porque o contexto está fascinado com a tarefa de estimular a competição entre indivíduos e a autossuficiência destes.
Todavia, o mundo cristão não pode, à semelhança da avestruz, aceitar cabisbaixo essa filosofia, envasilhar esses pensamentos difundidos atualmente para a nossa sociedade e, abandonar princípios valiosos e eternos ensinados e vividos por Cristo Jesus. Não é sem razão que se vê hoje nas comunidades ditas cristãs, irmãos humilhando outros irmãos, disputa por posições nas igrejas e instituições para alcançar ou manter o status de “cristão produtivo”, e outros.
“[Jesus] Levantou-Se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-Se com ela. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido (…) Depois de ter-lhes lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendei o que vos fiz? Vós Me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque Eu O sou. Ora, se Eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:4, 5, 12-15).
A atitude de Jesus de lavar os pés dos discípulos não pode ser entendida apenas que o Mestre quis ser cortês com cada um deles. Uma vez que a missão de Jesus seria estendida ao mundo através dos apóstolos, deveriam fazê-la na vertical e na horizontal: servir a Deus e a todas as pessoas a quem levassem as boas novas da salvação.
Na ótica de Jesus, um verdadeiro líder cristão nasce de um servo: “Mas o maior dentre vós será vosso servo” (Mt 23:11). Essa afirmação de Cristo não é muito confortável para líderes que consideram difícil servir a pessoas que ocupam posições inferiores às deles. O Salvador exemplificou que “quem não serve para servir, não serve pra…” liderar. Não serve para o Reino.
O Servidor por excelência
“Na história do bom samaritano, Jesus ofereceu uma descrição de Si mesmo e de Sua missão. O homem fora enganado, ferido, despojado e arruinado por Satanás, sendo deixado a perecer; o Salvador, porém, teve compaixão de nosso estado de desamparo. Deixou Sua glória, para vir em nosso socorro. Achou-nos quase a morrer, e tomou-nos ao Seu cuidado. Curou-nos as feridas. Cobriu-nos com Sua veste de justiça. Proveu-nos um seguro abrigo, e tomou, a Sua própria custa, plenas providências em nosso favor. Morreu para nos resgatar. Mostrando Seu próprio exemplo, diz a Seus seguidores: ‘Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.’ ‘Como Eu vos amei a vós, que vós uns aos outros vos amei.’”
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