Há muito poucas coisas na vida que realmente importam. E saber reconhecê-las é prova de sabedoria. Por isso, eu creio que não seja possível saber o exato valor das coisas enquanto a alma não for banhada pela luz que vem do Alto. Ou seja, se o Eterno não tocar profundamente o nosso coração, e não mudar os nossos olhos, teremos uma existência marcada por constantes erros de valores.
A ausência de Deus na vida do homem o impulsiona a gastar-se por “nada”, a lutar por “coisa nenhuma” e a se enriquecer com “contas de vidro”. É famosa a história do desbravador Fernão Dias que no século XVII se embrenhou pelo interior obcecado pela beleza das esmeraldas e morreu apertando entre as mãos um punhado de pedras verdes que imaginava serem aquelas, quando na verdade tratava-se de um mineral sem grande valor.
Há muita gente com os olhos vidrados correndo atrás do vento, correndo atrás de prestígio, de reconhecimento, agarrados às coisas que imaginam serem preciosidades e, de repente, os anos passam, a vida é perdida, e o prazer se esvai entre os dedos…
Conta-se que um milionário texano encontrou uma freira no Pacífico cuidando de leprosos, e lhe falou: -“Irmã, eu não faria isso por dinheiro nenhum do mundo”. E ela respondeu: -“Eu também não, meu filho, eu também não”. Ela possuía a paz e a serenidade de alguém que descobriu o que realmente importava.
Não saber o que de fato importa na vida é perder-se em frivolidades, em sensibilidades, é se machucar por nada. Uma jovem médica infectologista foi trabalhar com pacientes terminais contaminados com o HIV. Questionada sobre o que isso mudou em sua vida, ela disse: -“Aprendi a me alegrar com as pequenas coisas… e perdi a paciência de lidar com pessoas que reclamam de tudo na vida”. Assim como ela, também acabou minha paciência em lidar com cristãos mimados presos às futilidades.
Valorizar as pequenas coisas… não foi isso justamente o que Jesus veio nos ensinar? Ao homem que queria construir celeiros para armazenar sua produção, e passar o resto de seus dias comendo, bebendo e regalando-se, Ele chama de “louco” (Lc 12.20). Também é pedagógico o texto em que um jovem rico se aproxima do Mestre e pergunta o que precisa fazer para herdar a vida eterna. Jesus, olhando para ele, o amou e lhe propôs: “Uma coisa ainda te falta: vai vende tudo o que tens e dá aos pobres” (Mc 10.21). O jovem, sem dizer palavra, retirou-se dali triste, pois possuía muitas propriedades.
Que fique claro: o problema não está em possuir bens ou dinheiro, mas Jesus conhecia aquele coração e queria mostrar-lhe que o seu apego aos bens materiais deturpava-lhe a visão correta da vida, e por isso pediu a ele uma renúncia. Aquele jovem precisava resolver essa questão existencial. O mesmo vale para nós: o que precisamos renunciar?
“Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa…” (Lc 10.42).
Somos as “Martas” de hoje que correm, se fatigam, vivem ansiosas, necessitam de remédios para dormir – pois não conseguem se “desligar”… Somos as Martas que transformaram a simplicidade da vida em uma busca sôfrega de “mais e mais”, aliados a uma preocupação excessiva com tudo que se refere ao amanhã.
Em sociedades competitivas como o Japão, as crianças são incentivadas desde cedo a se destacarem. E a escola deixou de ser lugar de aprender, mas de competir. Tragicamente isso tem provocado as maiores taxas do mundo em suicídio infantil.
Edwin Aldrin foi o segundo astronauta a pisar no solo lunar, logo após Neil Armostrong. Ao retornar, a pergunta que ouviu de seu pai foi: “Por que você não foi o primeiro?”. Depois disso, sofreu de depressão e alcoolismo por dezoito anos.
Creio que todos concordamos que não há maior prazer que “comer, beber e gozar do fruto do trabalho”, como ensina Eclesiastes. Mas o homem simples de fé reconhece que tudo isso “vem da mão de Deus, e separado Dele ninguém pode se alegrar verdadeiramente”. Ou seja, separado de Deus tudo perde o seu valor.
O Evangelho nos remete a uma nova forma de viver. Lançar um novo olhar é fundamental para a compreensão do exato valor das coisas. Para o Evangelho, o mais importante não é ser o primeiro, nem ter o melhor salário, ou obter maior reconhecimento…
Peça para o Pai lhe mostrar o que realmente é fundamental em sua vida. Você vai ficar surpreso ao descobrir que se trata de coisas simples, as quais, quem sabe, nunca se importou de verdade.
Poucas coisas são necessárias para uma existência feliz. Espero que você faça as melhores escolhas.
(Texto de: Pr. Daniel Rocha)
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